VIAGENS NO TEMPO E PARADOXOS
TEMPORAIS
Segundo
o escritor Eduardo Torres, as Viagens no Tempo são o que há de mais
puro em termos de Ficção Científica, visto que elas o são por
excelência. Há algo de bastante justificado nesta frase, visto que boa
parte das obras que conhecemos como FC poderiam ser facilmente
transpostas para outros gêneros sem perda alguma de conteúdo essencial.
Não se
pode negar, porém, que a idéia de viajar no tempo é possível também no
terreno da Fantasia. A lenda do Pescador Japonês, é um exemplo
interessante, Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban também. Mas
quando H.G.Wells criou a Máquina do Tempo, em 1890, tivemos a
inauguração do gênero como o conhecemos hoje.
As
Viagens no Tempo gozam de uma posição de destaque na FC, não só
remontam aos sub gêneros mais antigos como talvez estejam entre os mais
populares. Ao mesmo tempo, podem parecer a primeira vista as mais
absurdas, pois é difícil conceber como seria possível se deslocar no
tempo, enquanto não é tão difícil conceber vôos espaciais, robôs
inteligentes ou extraterrenos. Entretanto, na verdade estão entre as
poucas que possuem base cientifica plausível, mais especificamente
sobre a Teoria da Relatividade.
Isso
ocorre porque uma das consequência mais notáveis da teoria Einsteiniana
é a fusão das idéia de tempo e espaço numa mesma entidade chamada Continuum
, o que, entre outras coisas, torna o
tempo, ao contrário do que se pensava, Relativo, e sujeito a vários
tipos de distorção.
As
viagens para o futuro são mais do que plausíveis, eles existem e
ocorrem a todo instante, porém em escalas imperceptíveis. Como, segundo
a Teoria da Relatividade, o movimento afeta o ritmo de passagem do
tempo, quanto mais rápido alguém se mover, mas rápido ela avança para o
futuro em relação a referenciais mais lentos. Ou seja, alguém que viaje
constantemente de avião chega ao futuro mais rápido que alguém que
nunca o tenha feito, pois o tempo para ela terá passado mais lentamente
e ela terá envelhecido menos.
No
entanto a diferença será desprezível. Mesmo os astronautas que foram à
Lua, que são os seres humanos que experimentaram as maiores velocidades
de deslocamento na história, cerca de 40mil km/h, experimentaram
avanços para o futuro insignificantes.
Para
que uma viagem ao futuro apresente resultados perceptíveis é necessário
velocidades de deslocamento muito maiores, que poderão ser possíveis
futuramente. Uma nave capaz de se mover ao menos a um décimo da
velocidade da luz, já apresentaria resultados bastante impressionantes.
Mas se as
viagens para o futuro são teoricamente possíveis e até futuramente
prováveis, as viagens para o passado ainda são altamente improváveis
mesmo em ousadas especulações teóricas.
Acelerar
até a velocidade da luz por exemplo, o que já é bastante improvável
levando em conta nossos conhecimentos científicos atuais, apenas
congelaria a passagem do tempo, permitindo que o viajante avançasse o
quanto quissesse para o futuro, mas ao que parece nada sugere que seja
possível ultrapassar tal limite e que mesmo o fazendo o tempo
retrocederia.
Uma
analogia interessante: Suponha que você esteja acostumado a percorrer o
trajeto de sua casa até a casa de uma amiga em 20 minutos. Então
adquire um meio de deslocamento mais rápido e passa a fazer o percurso
em apenas 10 minutos. Com outro meio de transporte esse tempo passa a
ser de 5, e assim por diante.
Chegaria
a um ponto em que teoricamente você gastaria um tempo que tendesse a
zero, ou seja, se transferiria instantaneamente de um local a outro.
Mas, e se fosse possível aumentar ainda mais a velocidade, ocorreria de
você chegar à casa de sua amiga ANTES de ter saído da sua?
Pelo
nosso paradigma científico atual tudo indica que não. Você nunca
conseguiria gastar um tempo Zero de descolamento, ainda que chegasse a
um tempo desprezível muitíssimo próximo de zero. No entanto, considero
ingênuo acreditar que nossas concepções científicas atuais bateram
definitivamente o martelo sobre a questão, e vamos deixar em aberto a
possibilidade de viagem para o passado.
Temos
que recorrer então à Filosofia para compreender certas questões. Muitas
coisas podem ser possíves dependendo do contexto. Por exemplo, não
temos dificuldade em imaginar que num outro Universo submetido a outras
leis físicas, fosse possível ultrapassar a velocidade da luz e ou
viajar para o passado. Nós podemos imaginar isso por que se trata de
uma Possibilidade LÓGICA. Ou seja, ela pode ser racionalmente
concebível.
Porém,
se uma coisa for LOGICAMENTE Impossível, ela com certeza o será
FISICAMENTE Impossivel. Nós podemos conceber logicamente coisas
impossíveis fisicamente, mas se uma coisa for logicamente inconcebível,
ele com certeza será impossível.
O
problema com as viagens no tempo para o passado é que elas geralmente
apresentam resultados logicamente impossíveis, PARADOXOS. E talvez o
mais problemático seja o mais comum em obras de Ficção Centífica sobre
Viagens no Tempo:
O
PARADOXO DE CAUSA E EFEITO, que diz que:
Se
alguém viaja para o passado no objetivo de alterar um evento para mudar
o presente, assim que o fizesse o motivo pelo qual se viajou deixaria
de existir, e consequentemente a viagem também. Sendo assim, o mínimo
que deveria acontecer seria a perda de memória por parte do viajante,
ou seu lançamento numa realidade paralela.
Há meios
de se superar essa dificuldade, mas raramente isso é feito com
desenvoltura principalmente em HQs ou Filmes.
Em
Os 12 Macacos por exemplo, houve um excelente tratamento do tema, mas
admitindo a impossibilidade de se alterar o passado de modo que a
própria tentativa de alteração fez parte do processo.
Em minha
opinião no cinema os exemplos mais desastrosos são os de Jornada nas
Estrelas, principalmente em STAR TREK VIII ,
onde no passado um evento principal é alterado mudando o presente, nos
caso os Borgs eliminando o evento que resultaria em boa parte do avanço
tecnológico humano, e então através de uma viagem os protagonistas
repõem o evento principal no lugar.
Entretanto
fazem inúmeras outras alterações nada insignificantes, mas que em nada
afetam os acontecimentos futuros, e fica sempre a pergunta: Por que os
Borgs não tentam de novo? E de novo e de novo? E se viajassem para
impedir que os heróis impeçam a mudança no passado? Por que não uma
outra viagem para impedir a raiz de todos os problemas? Quando isso
pararia?
E
o pior! Se os Borgs conseguissem impedir o tal evento, a Terra nunca
teria desenvolvido tecnologias de viagens espacias, e sendo assim nunca
teria se integrado a federação e muito menos conhecido os Borgs, que
também não teriam o menor interesse numa tecnologia pouco avançada, e
portanto não teriam vindo à Terra.
Esse
resultados são ilógicos, e podemos esclarecer isso formalizando e
simplificando a questão:
1) Os
Borgs vieram à Terra para assimilar sua Tecnologia Avançada.
2) Para eliminar a forte resistência dos terrestres, que se baseia em
tecnologia avançada, os Borgs viajaram no tempo e prejudicaram o
desenvolvimento da Tecnologia Terrestre.
3) Sem tecnologia avançada, os terrestres não puderam resistir aos
Borgs.
E
aqui fica clara a contradição, o item 3 entra em conflito com o item 1,
se os terrestres perderam sua tecnologia avançada devido a viagem no
tempo dos borgs, para que então os Borgs teriam vindo à Terra?
Em
síntese: Se você viajasse para o passado para impedir uma tragédia e o
conseguisse, a tragédia, que é motivo de sua viagem, deixaria de
existir, sendo assim sua viagem também.
O motivo
da viagem é a sua CAUSA, se o mesmo desaparecer, a viagem, que é seu
EFEITO, também desaparece.
É
até concebível que isso ocorra desde que o viajante perca completamente
a memória de sua viagem, pois ela também teria deixado de existir. E
dessa forma seria possível que há um minuto atrás a realidade em que
você vive fosse outra, mas você viajou no tempo e a alterou, de modo
que agora vive numa outra realidade tendo se esquecido totalmente da
realidade anterior em que viveu.
Pior!
Pode ser então que a realidade que vivemos tenha sido alterada
infinitas vezes, mas ninguém, nem mesmo os viajantes do tempo
responsáveis, saberiam disso.
Outra
forma de evitar esse paradoxo é afirmar que os viajantes na verdade
passaram para uma dimensão paralela, e dessa forma eles nada mais
fizeram do que escolher um Universo alternativo, e tenham se tornado
seres multi dimensionais. Mas isso também implica em que para as
pessoas que não sejam esses viajantes, as mudanças simplesmente não
ocorrem, ou seja, se você viaja no tempo e impede a tragédia, e volta
para o seu tempo sem perder a memória, você teria na verdade entrado em
um universo alternativo, para o qual aquela tragédia de fato jamais
ocorreu, mas o universo original permanece inalterado.
Já uma
situação como a ocorrida em filmes como De Volta para o Futuro ,
é absurda, pois o viajante, Martin McFly, faz alterações drásticas em
sua realidade e volta para ela, e ainda que ela não evolva exatamente a
causa da viagem no tempo, elas deveriam estar automaticamente
registradas em sua memória, ou aquela realidade para a qual ele voltou
já seria um universo alternativo.
Explicando
mais detalhadamente, cada vez que ele alterava um detalhe do passado de
seus pais isso viria a resultar em mudanças no futuro. Porém ele estava
de certa forma protegido dessas mudanças, talvez por não estar em seu
tempo original. Quando ele volta para seu Presente encontra várias
coisas mudadas e não as reconhece, isso significa que sua memória
pertece à realidade anterior, ele vêm de uma realidade anterior,
alternativa, caso contrário, ele deveria se lembrar automaticamente de
tudo, não sofrendo nenhum estranhamento com as mudanças.
Problemas
como esse me levaram a formular um modo de conceber as Viagens no Tempo
que alteram o Passado como formas de Viajar entre Realidades Paralelas.
E juro, tive estas idéias muito antes de tomar contato com idéias
similares que viriam a ser publicadas recentemente.
Para
explicar minha teoria, devemos ter em mente, e muito claramente, a
expressão:
O
UNIVERSO É INFINITO!
Depois
pensemos nas seguintes possibilidades de idealização do tempo:
Nesta
idealização temos uma Linha do Tempo, que imaginamos como correndo da
Esquerda para a Direita. em vermelho temos o PASSADO , e em azul o
FUTURO . O PRESENTE , representado em verde, seria um intervalo
infinitamente pequeno entre o Passado e o Futuro, um evento instantâneo
que transforma este último no primeiro.
Foi
o filósofo Santo Agostinho que, no Quarto Século da Era Cristã, teve a
ousadia de ser o primeiro a questionar a natureza do tempo e perceber
uma estranha contradição. Parece que o Tempo, de uma certa forma, não
existe, pois o Passado não existe mais, o Futuro ainda não existe, e o
Presente é infinitamente pequeno, sendo assim, como poderia existir?
Mas
não foi por acaso que citei esse grande filósofo, pois ao final de sua
vida, sem dúvida envolvido também nestas questões, ele se tornou
Determinista, isto é, alguém que acredita que o Futuro está definitiva
e inalteravelmente escrito. Opinião que é compartilhada por muitas
pessoas ainda hoje.
Esta
representação do tempo, acima, expressa então o Pré-Determinismo, mais
conhecido por Destino, que é idéia de que todos os eventos do futuro já
estão definidos e não podem ser evitados. Uma forma de expressar isso é
exatamente pensando no tempo como uma linha por onde corre o presente.
Agostinho, que era um filósofo cristão, se apercebeu que isso trazia um
grande problema para a idéia de Livre-Arbítrio, pois como podemos ter
escolha se todo o futuro já está definido? Mais informações em minha
monografia DEUS ME LIVRE , que trata
especificamente sobre estas questões.
Um outra
forma de imaginarmos o tempo seria:
Aqui,
temos um Futuro indefinido, onde várias possibilidades podem ser
realizadas e, assim sendo, que não pode ser previsto com exatidão. O
Presente seria então um fenômeno que converte possibilidades em fatos
transformando-os em passado, de onde não mais podem ser alterados. Ao
menos é assim que muitas outras pessoas costumam pensar.
Entretanto,
há uma outra forma de pensar o tempo, uma forma um tanto mais ousada,
onde todas as possibilidades jamais seria exatamente fechadas, mas sim
ficando "sempre" em aberto. Assim seria:
Aqui
teríamos então, não somente uma linha de tempo, mas várias, mais
provavelmente infinitas. E todas elas paralelas. É esse o conceito de
Realidades Paralelas, ou Alternativas, apresentadas em muitas obras de
FC. Esta concepção sugere que tais linhas sejam independentes entre si,
e que somente algum evento muito incomum poderia misturá-las.
Isso
então, acaba não sendo muito diferente da idéia anterior de
Determinismo, com a única diferença que tal determinismo não seria
único, mas para cada ser que vivesse em um, ele seria inviolável.
No
entanto, podemos também visualizar estas linhas da seguinte forma:
Vemos
aqui que o Tempo seria um processo que converteria possibilidades em
realidades, deixando-as no Passado. É razoável supor que o Passado, uma
vez consumado, não possa mais ser alterado, mas o Futuro é livremente
aberto às possibilidades. Assim, existiriam diversas realidades
paralelas, todas indeterminadas, sendo convertidas pelo efeito
"Presente", de, "Possibilidade de Futuro" para "Passado".
E
aqui, já é importante frisar, essas possibilidades tem que ser
INFINITAS! Ou seja, existiriam Infinitas realidades paralelas,
Infinitos Passados consumados com todas as infinitas possibilidades.
É
exatamente neste contexto que poderíamos pensar em viagens no tempo
para o passado, que inclusive alterassem eventos, mas que não causassem
paradoxos. Pois qualquer alteração já estaria prevista em uma das
infinitas linhas de possibilidades passadas, e assim, cada vez que um
viajante do tempo o fizesse, estaria na verdade saltando para um
universo paralelo. Ou poderíamos pensar também que tal universo só
passasse a existir assim que a alteração fosse efetuada.
O mais
importante é que os eventos do presente original do viajante não seriam
afetados. Se pensarmos no exemplo de De
Volta para o Futuro
poderíamos exemplificar com a idéia de que Martin Macfly, ou voltar 30
anos no tempo, retornou por sua própria linha temporal, porém ao
emergir no passado, imediatamente passou para uma linha paralela,
permanecendo nela mesmo quando voltou ao futuro. Essa é a única forma
de explicar que ele não tivesse nenhuma memória dos eventos que ele
mesmo gerou.
É
claro que essa teoria não salva o paradoxo no filme, pois se é assim,
deveria haver um duplo, um outro Martin neste universo paralelo, que
evidentemente vive normalmente em sua realidade e que não teria viajado
no tempo.
Essa
teoria abre possibilidade para qualquer tipo de viagem temporal,
tornando qualquer possibilidade logicamente possível. É claro que ela
acrescenta alguns aspectos perturbadores. A maioria das pessoas tem
dificuldade em lidar com a idéia de uma infinitude de possibilidades,
mas essa concepção, ou pelo menos a possibilidade de cada viagem ao
passado gerar um universo paralelo totalmente novo, me parece a única
forma de tornar as viagens para o passado racionalmente viáveis.
Outra
consequência seriam os infinitos "eus" paralelos coexistindo nessa
multiplicidade de universos, algo um tanto perturbador. Uma
possibilidade de atenuar a tensão desta idéia seria que na realidade
tais universos não existissem previamente, mas que fossem gerados pelas
viagens no tempo, passando então a serem independentes. Porém isso leva
à questão de qual seria o resultado de diversas viagens constantemente
gerando realidades paralelas. Poderia isso induzir a um tipo de
perturbação em todos os universos? Em especial no original?
No
entanto, esse apelo ao infinito me parece impossível de ser contornado,
especialmente se quisermos imperir o Determinismo, caso contrário,
poderíamos pensar num grande grupo de linhas temporais paralelas, em
alguns viajantes oscilando por essas linhas, mas ainda assim, pensar
num nível superior de tempo, onde todas essas variações pelas linhas
paralelas já estariam previstas. Desenvolvi essa teoria mais
detalhadamente ao final de meu Livro Virtual Os Crononautas .
Em
verdade, pretendo ir ainda mais longe, e afirmar que qualquer concepção
de viagem no tempo para o passado, independente de pretender trabalhar
com paradoxos ou não, necessariamente já está pressupondo algo
muitíssimo parecido com infinitos universos!
Para
isso, pensemos o seguinte. O Universo é um gigantesco aglomerado de
zilhões de partículas, que se movem e se alteram ao longo do tempo.
Vamos imaginar que exista uma unidade de tempo fundamental, algo menor
que o microssegundo, que o nanossegundo, mesmo um femtossegundo.
Um I
nstante I nfinitesimal
I ndivisível , um III
, ou, para simplificar, um I
3 .
Assim,
o tempo seria uma sequência virtualmente infinita de I 3 , sucedendo-se
um após o outro. Cada um desses instantes tem uma posição definida para
cada uma das suas virtualmente infinitas partículas, e somente num I 3
sequinte poderia haver qualquer variação. Isso significa, enfim, que
cada I 3 só é idêntico a si próprio.
Para
que eu viajasse do meu presente, o I 3 atual, para um I 3 qualquer no
passado, eu estaria pressupondo que, de algum modo, esse passado está
preservado, isto é, haverá o I 3 em questão com todas as partículas no
seu lugar exato e específico. E então fica a questão: Como funcionaria
esta "memória", este "registro" do passado?
Se
houvesse um "outro" universo perpetuamente congelado em cada I 3 ,
então teríamos uma quantidade total de partículas igual a todas as
párticulas do universo multiplicadas por todos os I 3 , um número
impossível até de imaginar, mas sendo assim, porque cada universo
destes deveria ficar parado, e não evoluir independentemente?
Se
cada I 3 for definitivamente fechado e congelado, seria impossível
viajar no tempo, porque não se poderia entrar num I 3 passado. Isso só
seria possível se cada um desses I 3 fosse dinâmico, e permitisse
Deveria
então existir exatamente essa quantidade de universos paralelos: I 3 X
Total de "párticulas" mínimas.
Assim,
se existem uma versão congelada do universo para cada I 3 , então, de
certa forma, já existem inúmeros universos paralelos embora só fossem
acessíveis
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