|
|||||||||||
Filosofia da Ficção Científicatexto
retirado do site http://www.xr.pro.br/
|
Não-Ficção |
Ficção |
||
Realista
|
Supra
Realista
|
||
CIENTÍFICA |
FANTÁSTICA |
Os diversos gêneros Ação, Aventura, Comédia, Drama, Épico, Erótico, Guerra, Policial, Suspense, Terror e etc. Podem ser tanto Ficção quanto Não-Ficção, creio que isso seja óbvio. A vida real pode nos proporcionar qualquer uma dessas experiências.
Mas quando Ficção, esse gêneros também podem ser Realistas ou Supra Realistas, dependendo do conteúdo que tragam. E quando Supra Realistas podem ser Fantásticos ou Científicos.
Portanto, creio que isso deixe claro que Ficção Científica não é um "gênero" propriamente dito, não como os outros, ela seria na verdade um dos 4 Super Gêneros:
NÃO-FICÇÃO
FICÇÃO REALISTA
FICÇÃO SUPRA REALISTA CIENTÍFICA
FICÇÃO SUPRA REALISTA FANTÁSTICA (que é a mais distante da realidade)
Numa linhagem progressiva:
O limiar que separa a FC da FF, bem como a que separa a Ficção da Não-Ficção, pode ser difícil definir, mas a maioria das obras poderão ser enquadradas claramente em um desses Supra Gêneros
Quanto ao Supra Realismo, num extremo teremos aquele modelo de Ficção Fantástica que mais se distancia de qualquer possibilidade real, no outro extremo teremos a radical High Science Fiction (Alta Ficção Científica), ou Hi Sci-Fi, que tenta garantir a perfeita validade de seus argumentos, baseando-se o mais metodicamente possível em projeções plausíves das possibilidades científicas futuras, e em geral assegurando que serão possíveis no futuro.
É por isso que obras de gênero misto, podendo misturar comédia, drama, policial e etc, são difíceis de classificar, indo parar, por exemplo nas locadoras de vídeo, nas mais diversas seções, mas se houver algum elemento de FC, a obra invariavelmente será colocada no grupo FC. Embora muitas vezes haja um completo desentendimento sobre o que significa FC, e já pude constatar, até preconceito.
Até a década de 80 no Distrito Federal, a programação de cinema por exemplo, acessível por telefone, ignorava por completo a FC, categorizando os filmes apenas nos gêneros Aventura, Comédia, Drama, Erótico, Suspense ou Terror, além de outros mais específicos como Karatê e Faroeste.
Toda essa dificuldade resulta em considerar que a FC seja um gênero de natureza equivalente aos outros, quando na verdade sua natureza é bem diferente. Ela é basicamente um grau específico do Supra Realismo da História.
Podemos também, para maior esclarecimento, correlacionar o Grau de RACIONALIDADE com o Grau de SUPRA REALISMO de forma cruzada. Não esquecendo que a Racionalidade está sendo aplicada apenas no âmbito dos argumentos que validam o supra realismo da obra!
Considerando que qualquer obra neste âmbito possui algum grau Positivo de Supra Realismo, verificaremos que as obras de FC estarão acima do limiar das linhas pontilhadas, isto é a FC exige um grau de racionalidade mínima. O nível de Supra Realismo, desde que haja um mínimo, não afeta sua qualidade como FC, determinada tão somente pelo grau de Racionalidade.
Ilustrando o esquema com exemplos populares da FC cinematográfica, no ponto "A" teríamos uma obra com baixo grau de Supra Realismo e alto grau de Racionalidade, "2001-Uma odisséia no Espaço" por exemplo. No ponto "C" teríamos uma obra de maior Supra Realismo e grau pouco menor de Racionalidade, como The Matrix.
No ponto "D" teríamos obras cujo grau de racionalidade embora elevado, ainda não as caracterizaria como FC. Um exemplo são as obras de Tolkien, O Senhor dos Anéis. Apesar da ambientação fantástica, existe uma racionalidade intrínseca no mundo. É possível detectar claros limites para as magias dos personagens após uma maior intimidade com a obra, ao leitor é dado saber o que é possível ou não dentro deste universo fantástico.
Talvez um pouco acima do mesmo ponto "D" eu classificaria uma obra que invariavelmente é considerada FC, os filmes de Star Wars de George Lucas, que apenas a roupagem técnica lhe empresta um teor de FC, porém de baixa racionalidade. As batalhas espaciais, as Espadas de Luz, a gravidade artificial das naves, nada é explicado racionalmente, e são em geral absurdas. Apenas a roupagem lhes disfarça a característica de FF.
No ponto "F" teríamos obras ainda mais supra reais e menos racionais, como Harry Potter, e mais além, e mais abaixo, os famosos contos de fadas, onde virtualmente tudo pode ocorrer sem qualquer justificação racional.
É difícil encontrar filmes no ponto "B", mas são tema comuns na literatura. Esse talvez seja um dos maiores desafios ao escritor, criar ambientações muito ousadas e validá-las racionalmente. A série "Duna", de Frank Herbert, talvez seja um bom exemplo popular, mas obras menor famosas como "Fundação" de Isaac Asimov, representam melhor esse duplo exponente de supra realismo e racionalidade.
E no ponto "E" é relativamente simples encontrar exemplos. Quaisquer temas que envolvam uma dose discreta de sobrenatural.
A dificuldade em se perceber melhor esse esquema é que nos acostumamos a classificar obras arbitrariamente apenas pela sua aparência superficial, e é claro, termos associado rígidamente a racionalidade ao "científico", ainda que essa associação seja útil para categorizar certos casos.
Mas notaremos uma inegável afinidade entre públicos que apreciam certas obras de FC e FF que tem em comum uma coerência e lógica interna satisfatórias, ao mesmo tempo que tem menor apreço por obras que falhem nestes quesitos independente de suas roupagens.
O que tem definido mais claramente a FC é antes de tudo os pressupostos. Quando estes são previsto pelo nosso Paradigma científico atual, a obra tende a ser imediatamente classificada como FC, mesmo que careça de racionalidade em justificar seu Supra Realismo, e mesmo obras muitíssimo ordenadas conceitualmente, lógicamente possíveis, ficarão de fora do "gênero" FC se apresentarem pressupostos místicos ou espirituais.
Isso é evidentemente compreensível, e poderíamos dizer, sensato na maioria das vezes para fins de classificação, mas tem como efeito colateral criar uma nebulosidade nos categorias. E além disso criar um problema relativo ao curiosos processo de OBSOLESCÊNCIA de obras que podem mesmo perder seu status de FC.
Muitas obras já foram superadas pela realidade, como as de Júlio Verne, e algumas de Asimov, muitas vezes se baseando em concepções plausíveis na sua época de produção. É comum classificar-se algumas destas obras como RETROFUTURISTAS, e muitas são propositalmente produzidas com essa caracterísitcas mesmo depois de seus pressupostos já estarem superados. O que interessa porém, é o grau de racionalidade com que o tema é tratado, a coerência interna.
Em Filosofia muito se fala em "mundos logicamente possíveis", onde se faz experimentos imaginários que devem ser consistentes mesmo que seus pressupostos não sejam válidos em nosso mundo real. Uma obra de FC deve, necessariamente, se passar em um Universo Logicamente Possível, onde seus pressupostos não entrem em contradições.
Diferenciar esso essência racional da simples roupagem é quase impossível para os pouco envolvidos com obras de FC, mas é intuitivamente claro para os fãs do gênero.
Do mesmo modo como certas obras são refutadas pela realidade, outras podem ser confirmadas. Temas como a viagem à Lua por exemplo, embora mais comumente superadas. Esse tema serve como um ótimo exemplo das diferentes formas de FC, sendo representado por obras clássicas de seus precursores, H.G.Wells e Júlio Verne.
Ambos desenvolveram sua viagem à Lua. Verne é em geral menos Supra Realista que Wells, e também menos Racional." A Viagem à Lua" de Verne por exemplo, exige premissas triviais em seu tempo, a cápsula que vai ao espaço é um projétil disparado por um canhão. Ou seja, isso não exigiu grande esforço de imaginação para a época.
Já Wells usa um conceito muito mais ousado. Em sua obra "O Primeiro Homem na Lua", existe a "Cavorita", um material sólido desenvolvido por um excêntrico e genial cientista que possui a propriedade de barrar o efeito da Gravidade. Com isso constroe-se uma cápsula capaz de se isolar da atração da Terra e subir até a Lua.
Portanto, o grau de Supra Realismo é maior. Mas ao mesmo tempo é mais racional, pois uma vez aceita a possibilidade lógica da Cavorita, a temática se desenvolve com perfeição, sem incorrer em contradições. Diferente de Verne que comete um erro primário em sua Viagem à Lua, ao supor que seres humanos poderiam ser colocados dentro de uma cápsula e serem acelerados de 0 a 660 mil Km/h (velocidade de lançamenteo necessária para entrar em órbita) em menos de um segundo, e sobreviverem! Ainda que a Viagem a Lua de Verne tenha um indisfarçável tom satírico.
Portanto, voltando ao gráfico:
Wells estaria mais próximo dos pontos "C" e "B", ao passo que Verne mais à esquerda de "C" e em geral mais abaixo. E não estou aqui fazendo um julgamento de valor sobre os autores, pois são características de seus estilos literários. Mary Shelley, por exemplo, na ainda mais precursora obra "Frankstein", estaria por volta do limiar, próximo ao ponto "D", pois que seu livro basicamente usa uma premissa razoavelmente "Alquímica" para desenvolver uma tragédia.
Mas a confusão entre FF e FC não pode ser solucionada em definitivo, pois na verdade a Ficção Supra Realista pode se confundir mesmo com a Não-Ficção, ou seja com o que consideramos Realidade. Temos vários relatos de eventos fantásticos cujas fontes garantem ser reais. Há filmes com estórias Ufológicas por exemplo que se dizem baseados em fatos reais, ou eventos milagrosos e místicos em geral.
Afinal, o que poderia haver de mais fantástico do que a saga de Moisés e as 10 pragas do Egito, travessia do Mar Vermelho e etc? Boa parte da humanidade considera tais eventos verídicos. No entanto um filme como Impacto Profundo já pode ser Considerado Ficção Realista, assim como muitas obras de FC do passado já foram superadas pela realidade, o que porém que não acontece com a FF, mesmo nosso avanço e progresso científico não conseguem eliminar a crença de muitos em eventos Fantásticos.
Como podemos ver, a dificuldade em se definir o quem vem a ser ou não Ficção e se esta é Fantástica ou Científica, não é um simples problema da literatura em si. É um problema da própria realidade. Nós não temos como ter certeza da "realidade" de tudo a nossa volta, não podemos de fato garantir se muitas coisas são de fato possíveis ou não, e essa dificuldade se extende e se intensifica na produção de Supra Realismo.
Os próprios fatos históricos e cotidianos estão sujeitos a elevados graus de interpretação e distorção, e uma pessoa crédula pode ter muito mais convicção da existência de fenômenos extra ordinários do que em certos fatos tirivias.
Fatos ou Interpretações? Realidade, ou Ficção? Ilusão?
São questões universais, que a Filosofia ainda tem muito o que investigar.
Marcus
Valerio XR
fc@xr.pro.br
© 2021 ScifiBrasil |
|
Site meramente informativo,
todas as marcas e nomes aqui mencionados são de propriedade de seus
detentores |