Guerreiros
O estranhamente grande
soldado examinava mais uma vez sua carabina M1. John "peewee" Jacobson,
soldado de 1ª classe observava a curiosidade do companheiro.
"É a mesma que
usamos no treinamento
básico, não mudou nada".
"Para mim é
novidade. Tão.. rústica,
mas ao mesmo tempo tão letal! Existem muitas formas de matar, mas metal
contra carne sempre será minha favorita."
Imbuído de seu
espírito patriótico,
o jovem soldado reagiu ao comentário.
"Não estamos
aqui para matar,
companheiro. Estamos aqui para defender a Europa de um terrível mal, e
se alemães precisam morrer para que o Mundo Livre possa continuar
existindo..."
O soldado
grandalhão soltou um ruído
de escárnio, sua barba e cabelos compridos (como o sargento dele deixou
uma cabeleira assim passar impune?) balançando ao vento, já duros com o
sal e a maresia.
"Você näo
entendeu nada, pequeno
verme (a expressão de quase simpatia contrariou o termo, mas foi isso
que peewee ouviu, ou pensou ter ouvido). Porque uma causa é nobre o
bastante para se morrer, não quer dizer que ela não seja nobre o
bastante para se matar. Morrer é fácil, não requer nenhuma habilidade.
Matar fracos, velhos, crianças e indefesos também é fácil. Não há honra
nisso, fato que nosso inimigo parece ignorar.
O verdadeiro
guerreiro(e nesse
momento peewee viu seu companheiro quase como o General Eisenhower) se
dispõe a matar por uma causa, e, somente se necessário, morrer por ela.
Suicidas não são bem-vindos nem apreciados."
O motor do
pequeno barco Higgins foi
ligado. A Ordem havia sido dada. Não haveria mais volta.
"Nossa causa é
justa, a vitória é
nossa", disse peewee mais para si mesmo do que para qualquer outro.
"Não!!!"
A voz do soldado
grandalhão soou
mais alto do que os tiros dos encouraçados que castigavam a praia ainda
distante.
"Vitória certa é
só um caminho mais
curto para a derrota. Nossa causa é justa e POR ELA iremos vencer.
NUNCA assuma uma vitória antes de ter o inimigo esmagado sob seus pés.
Ele tem tanta fé na própria causa quanto você, soldado! Nunca se
esqueça disso. O que em último ponto irá causar a derrota do inimigo é
sua atitude de superioridade. Ele insiste em tratar outros humanos como
inferiores, age como sequer fossem humanos. Isso é inadmissivel.
Promove uma divisão inexistente, que ainda irá trazer muita morte para
seu... nosso povo."
O discurso
eloquente do soldado
atraia até o timoneiro. Todos no pequeno barco ouviam atentamente as
palavras daquele guerreiro. De onde tirara ele tanta experiência?
"Não tratem seu
adversário como
inferior no campo da honra ou no campo da habilidade. Respeitem o
inimigo caído com uma morte honrosa, e acima de tudo nunca deixem seu
inimigo achar que sua morte foi injusta. Nada mais desonroso que morrer
nas mãos de um covarde de sorte.
Um sargento
ficou curioso com aquele
soldado. Cercado de garotos, ele era o próprio veterano, e não se
encaixava no ambiente, embora ninguém ali tivesse dúvidas de que seria
junto dele que ficariam no desembarque iminente.
- Soldado, você
serviu na Primeira
Guerra?
- Para falar a
verdade sim, disse ele
parecendo recordar eventos distantes. Verdum foi um massacre, bem pior
do que Gettisburg.
Não ocorreu a
ninguém que ele
estivesse fazendo uma comparação baseada em experiências de primeira
mão.
A barragem de
fogo naval parou de
trovejar, isso significava que estavam perto. O pequeno barco Higgins
sacolejava nas ondas das barcaças maiores, sua amurada alta impedia a
visão de todos menos o timoneiro. Não que alguém realmente quisesse ver
o que os estava esperando.
- E qual foi sua
pior batalha,
soldado?
Lembranças do
único momento onde
sentiu realmente medo passaram por sua mente. Também vieram lembranças
de um Rei.
Aquele humano tinha seu maior respeito, ele o seguiria aos
portões do inferno se ele assim pedisse, como na verdade pediu. Seus
amigos fizeram troça de sua admiração, perguntando como um guerreiro
daquele porte seguia de livre vontade um reles e primitivo homem.
Mudavam de idéia
após ver os
registros. Leônidas e seus 300 Espartanos enfrentaram até a morte um
milhão de soldados persas de Xerxes, e o Comandante Kord do Império
Klingon tinha gratidão ao vendedor da Safaris Temporais que o convenceu
a lutar ao lado daquele grupo de guerreiros impossíveis.
Agora a
plataforma que formava a
proa do pequeno barco de desembarque descia em na praia Omaha. Soldados
caíam a seu lado, vítimas das certeiras metralhadoras alemães.
Indiferente, Kord teve tempo de responder a pergunta do sargento,
enquanto abria caminho atirando.
-
Minha pior batalha?
Termópilas, sargento. Qaplá!!!!!!
Carlos Cardoso é colunista do MeioBit
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